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29 fevereiro 2016

Resenha do filme: As Sufragistas


Oi pessoal, tudo bem? Hoje eu vim fazer uma resenha do filme As Sufragistas que assisti há mais ou menos um mês e como feminista, achei indispensável fazer um post falando sobre ele. E antes que você ache que é "mimimi de feminista" recomendo que assista ao filme e leia a resenha antes de tirar mais conclusões, ok? E se você ainda não assistiu o filme, pode ler a resenha tranquilamente, só fica de olho no aviso de spoiler! 

O filme se passa na Inglaterra no início do século XX, pouco antes da primeira Guerra Mundial e começa mostrando mulheres trabalhando em fábricas e ao fundo o discurso de um parlamentarista sobre a falta de equilíbrio mental feminina que impossibilitava as mulheres de fazer julgamento em assuntos políticos. No começo também se fala um pouco sobre as tentativas pacíficas e fracassadas do movimento sufragista nos últimos cinquenta anos e consequentemente sua a entrada em uma numa campanha de desobediência civil.
A protagonista do filme, Maud Watts (Carey Mulligan), aparece logo depois e de cara ela já representa a classe das mulheres trabalhadoras: mãe, esposa e trabalhadora incessante  numa fábrica, revivendo o martírio de sua mãe e sua avó . Determinado dia durante o expediente, ela é mandada para fazer uma entrega, e é nesse momento que ela tem seu primeiro contato com o movimento sufragista, ela vê mulheres atirando pedras em vitrines clamando por direito voto, uma das que estão fazendo parte da manifestação é Violet Miller (Anne-Marie Duff), que trabalha com Maud. Esse contato a deixa num estado reflexivo.
Maud começa a enxergar cada vez mais o estado de exploração no qual ela e outras mulheres viviam: ganhavam menos nas fábricas, eram exploradas no trabalho, eram assediadas e até estupradas pelos patrões, morriam cedo porque o trabalho das mulheres nas fábricas eram aqueles que mais prejudicavam a saúde, entre muitas outras coisas. O movimento em busca do direito das mulheres votarem e serem votadas, o chamado sufragista, começava a significar muito mais que apenas representatividade na política mas também a possível mudança do estado de inferioridade das mulheres, por isso cada vez mais Maud participava assiduamente de protestos e é nesse momento que ela perde um pouco o papel de protagonista e começa a dividi-lo com outras sufragistas militantes. Os cenários recriam de maneira fiel física e palpável as ruas e casas londrinas dos anos vinte, e também o interior da lavanderia onde se passam os dias trabalhados das personagens.


Acredito que as cenas mais impressionantes do filme são aquelas que mostram a prisão das militantes, e retratam o sofrimento de milhares de mulheres  que  por muitas vezes ao se recusarem a comer eram obrigadas a se alimentar por sondas nasais. Como mérito por tudo que elas passavam, as sufragistas as premiavam, em nome do movimento, com uma medalha de honra toda vez que saíam da prisão.
Outro ponto alto, é a aparição de Meryl Streep , no filme, Emmeline Pankhurst, que ocorreu apenas em uma cena, porém esta foi impactante e fundamental,  Emmeline faz seu discurso de motivação às militantes: “Durante cinquenta anos temos trabalhado de forma pacífica para garantir o voto para as mulheres. Temos sido ridicularizadas, maltratadas e ignoradas. Agora percebemos que ações e sacrifícios, devem ser a ordem do dia. Estamos lutando por um tempo em que cada menina nascida neste mundo terá uma oportunidade igual aos seus irmãos. Nunca subestime o poder que as mulheres têm de definir os nossos próprios destinos. Nós não queremos quebrar as leis, nós queremos faze-las.”.


Das personagens principais, apenas duas não são fictícias: Emmeline e Emily. Emmeline Pankhurst ajudou a fundar a União Social e Política das Mulheres, embrião da revolução sufragista. E Emily Wilding Davison, interpretada por Natalie Press,  que teve um papel trágico mas fundamental na luta das sufragistas. Já Edith, personagem em parte fictícia que é uma farmacêutica apoiada na causa sufragista pelo marido, foi criada inspirada em duas mulheres: Edith New e Edith Margaret . Edith New companheira influente de Emmeline na Women's Social and Political Union, e Edith Margaret foi conhecida por sua habilidade no Jiu-Jitsu e se uniu às sufragistas como guarda-costas e depois tomou lugar na militância.
- os spoilers começam aqui -
Uma das deficiências do filme é: a falta de aprofundamento na personagem Emily. Ela foi uma das protagonistas da história do movimento sufragista e inclusive morreu em seu nome, então nada seria mais justo do que dar a ela o espaço que as outras militantes, como Violet e Edith, tiveram no filme. Por causa da falta de foco e aprofundamento na neste personagem,  sua morte no filme acaba gerando muito menos impacto no espectador do que se tivessem dado a devida atenção a ela. Apesar dessa falha no roteiro, houve uma escolha que não poderia ter sido melhor: o grande foco da história é a classe de mulheres trabalhadoras. O movimento tinha sido em parte protagonizado por mulheres de classe alta que tinham familiares no parlamento, mas um dos seus pilares foi a classe trabalhadora de mulheres pobres que sofriam os efeitos da opressão e que portanto não poderiam ser ignoradas.


Quem acompanhou as notícias sobre o filme, viu a polêmica que ele causou em sua campanha. O elenco de As Sufragistas fez uma matéria para a Time Out, e nela, todas usavam camisetas escrito "Eu prefiro ser rebelde do que ser escrava", o que gerou equivocadamente ideia de racismo, ora entenda-se que a palavra escrava neste contexto (o contexto do discurso de Emmeline) retrata apenas a falta de opção que o sistema impunha a  todas as mulheres. Acredito que fizeram uma escolha infeliz e insensível à aqueles que vivenciaram a escravidão na íntegra e isso, obviamente, causou problemas. Deve ser levantada ainda a questão do elenco ser inteiramente branco, seria por falta de elementos que comprovem o envolvimento de negras ou mestiças? 
Mas eu acredito que o mais legal no filme está em Maud, isso porque ela é o motivo pelo qual alguém deve ser feminista em carne e osso. A libertação psicológica de Maud, em ver que não precisava se submeter a nada por causa do seu gênero é algo pelo que todas nós feministas passamos e a união entre as mulheres que lutam umas pelas outras é uma das coisas mais maravilhosas no feminismo; toda a transição para uma sufragista de Maud é inspiradora e mostra a força do movimento e de quem participa dele.

Gente, por hoje é só! Desculpem pela falta de post semana passada, eu me perdi com as coisas da escola e acabei não conseguindo postar. 
Segunda que vem tem post novo meu, ok? Beijos e até mais




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